Organizada pela Amcentro, a comitiva de prefeitos destaca aprendizado nas áreas de irrigação, emprego de tecnologia e agregação de valor na agricultura

Entre os dias 26 e 30 de setembro, prefeitos da região Centro do RS foram a Portugal para descobrir o que o país europeu, que colonizou o Brasil e ao qual temos profundas raízes culturais, tem a ensinar ao nosso estado. O grupo participou da missão governamental e empresarial Agritec Portugal 2022. Realizada em parceria entre a Atlantic Hub e a No Gap Ventures, a delegação contou com representantes da Famurs, da Associação dos Municípios da Região Centro do Rio Grande do Sul (Amcentro), da UFSM e da Unicred.


Com o objetivo de realizar encontros e visitas técnicas visando a atração de investimentos e intercâmbio de negócios com o ecossistema de agronegócios português, participaram da missão os prefeitos de Jari, Júlio de Castilhos, Tupanciretã, Silveira Martins e São João do Polêsine, além do responsável pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Agrícola de Santiago. 


O grupo de 18 pessoas visitou, durante uma semana intensa de aprendizado conhecimento e troca de experiências, municípios portugueses, conhecendo indústrias principalmente na área do agronegócio. No município de Idanha-a-Nova, a empresa Veracruz, Amêndoas da Beira Baixa, possibilitou conhecer o uso de tecnologia de ponta para produção de amêndoas. Entre as inovações, capitaneadas por um engenheiro brasileiro, o mapeamento com o uso de drones e inteligência artificial para o controle de pragas.


O emprego de tecnologia de ponta na irrigação para aumentar a produtividade em terreno adverso em uma região com pouca chuva, características do clima e solo português, também serviram de exemplo e inspiração para os gestores gaúchos, que têm vivenciado as consequências de períodos intensos de estiagem no RS com frequência nos últimos anos.


“Conseguimos conhecer sistemas de irrigação usados em Portugal, em uma região muito árida com pouca chuva, com escassez de água muito grande, onde os governos locais têm investido na construção de barragens para o abastecimento da produção do agronegócio. Muito investimento na área de irrigação com uso da tecnologia para diversas culturas. Agricultura de precisão com foco em economia de água”, relatou o presidente de São João do Polêsine e presidente da Amcentro, Matione Sonego.


Outra visita técnica elogiada ocorreu em Santarém à empresa de biotecnologia Entogreen que desenvolve projeto para reutilização do bagaço da casca da amêndoa produzida na região. O manejo ecológico desse rejeito com o uso de uma mosca originária do Brasil resulta em três produtos: húmus (adubo), chorume (biofertilizante) e a própria larva, que se alimenta desse rejeito destruindo com todo o bagaço da amêndoa e depois o uso da própria larva para desenvolver ração animal de alta qualidade, alto valor proteico e 100% orgânico. “A empresa foi criada para atender uma demanda local e está ampliando a operação. Foi aberto um canal para troca de conhecimento e pesquisa para demanda dos municípios gaúchos para uso em rejeitos de suínos”, destacou o assessor técnico da área de agricultura da Famurs, Ismael Horbach, que acompanhou a missão. 


Olivicultura - Outra agenda importante foi a visita ao Lagar do Marmelo, localizado em Ferreira do Alentejo, de propriedade do grupo industrial Sovena, que produz diversas marcas de azeite de oliva, entre elas a famosa Andorinha. O interesse na atividade deve-se ao forte crescimento no RS, em diversos municípios, da produção de oliveiras e de azeite de oliva. O grupo conheceu desde o plantio, colheita e a industrialização das oliveiras, tanto para venda in natura assim como o beneficiamento em azeite de oliva. Portugal é o segundo maior produtor de azeite de oliva do mundo, com olivais modernos com sistema de tecnologia avançada de cultivo, coleta e extração mecanizada produto premium em larga escala


Incentivo à Inovação - Um exemplo de incentivo municipal à inovação pode ser presenciado no município do Fundão. Na localidade, a gestão municipal é o principal promotor de um espaço de criação e experimentação de baixo custo, apostando numa estratégia de inovação e empreendedorismo. Através do incentivo, parceria público privada, na incubadora municipal centro de negócios e serviços do Fundão uma startup que criou um sistema de monitoramento instantâneo de qualidade do solo foi beneficiada, viabilizando uma solução para um problema ambiental recorrente no país. Fundão é um município pequeno, mas tem cerca de três mil estrangeiros, dentre eles dois mil brasileiros desenvolvem seus projetos e estão hoje trabalhando e morando na região.


“O Brasil tem um potencial enorme se nós tivéssemos apoio para produzir como tem em Portugal nós seríamos um país de primeiro mundo. Fiquei encantado com a organização e limpeza. A gente não enxerga pobreza nas ruas, e nem muita ostentação. A missão foi um aprendizado muito grande para nossos municípios”, Osnei dos Santos Azeredo, prefeito de Jari


Agregação de Valor - No território do Geopark Naturtejo, geoparque Mundial da Unesco, assim como o Caminhos dos Cânions do Sul no RS, os prefeitos compreenderam melhor a importância do marketing de valor agregado à produção. A região concede o selo Geo aos produtos que se destacam pela produção orgânica e artesanal. Por exemplo, no geopark é produzido um azeite de olivais datados de 1600 anos, de origem grega, com produtividade baixa, mas alto valor agregado. A unidade chega a ser vendida a 80 euros, porque se compra a história, a experiência. O marketing agregado potencializa a comercialização de produtos para determinados nichos de mercado, como a produção de morango orgânico de alto valor agregado no geoparque, entre outros geoprodutos. O RS tem dois geoparques aspirantes a geoparque mundial da Unesco. O Geoparque Quarta Colônia, que acaba de receber a missão técnica da Unesco, e o Geoparque Caçapava que será avaliado neste mês de novembro.


“Um ponto fundamental deles é o que chamam de denominação de valor do produto português. Eles sabem que por características geográficas não conseguiram ser o maior em nada, mas eles têm a preocupação de ser os melhores. Esse é outro ponto importante a denominação de origem, agregando qualidade ao produto, agregando nome, marca, características, todos os cuidados para produção daquele produto até que chegue no mercado, para ter o renome de ser um dos melhores do mundo”, avaliou o prefeito de Tupanciretã, Gustavo Herter Terra.


“É um país bonito, muito organizado. O Brasil é outra realidade, mas tem muito mais capacidade do que Portugal de produzir e de se desenvolver. Eles já estão no limite. Não temos problema de chuva, que lá é algo grave. A nossa agricultura é muito mais forte. Em relação a Portugal eu acho que pra nós faltaria uma política de incentivo ao agronegócio à indústria, semelhante a que eles têm lá”, concluiu o prefeito de Silveira Martins, Fernando Luiz Cordero.


O presidente da Famurs, Paulinho Salerno, que é prefeito de Restinga Sêca, também da região Centro do estado, embora não tenha participado da Agritec, avaliou que a participação dos gestores em missões internacionais é fundamental para o desenvolvimento do municipalismo. “É de suma importância também a Famurs estar presente de forma técnica nessas missões para ampliar o conhecimento e a bagagem de conhecimento da sua equipe, podendo trocar mais informações e repassando orientações aos gestores”, finalizou o presidente Salerno.




Informações da notícia

Data de publicação: 01/11/2022

Créditos: Janis Morais

Créditos das Fotos: Ismael Horbach