Além do debate sobre ações de mitigação de eventos extremos, o 41º Congresso da Famurs foi palco de anúncio de linha de crédito de 90 milhões de dólares para cidades resilientes

Como a meteorologia atua para antecipar informações estratégicas sobre clima e a importância da ciência para apoiar as ações dos gestores na construção de cidades resilientes foi o enfoque da palestra da meteorologista Estal Sias, do MetSul Meteorologia, na quarta-feira, dia 7/06, no 41º Congresso de Municípios do RS, promovido pela Famurs.


A especialista antecipou aos prefeitos e prefeitas a previsão de um Super El Nino em 2023, com a instalação mais rápida, ainda no final de junho, início de julho do fenômeno climático, quando o esperado seria em agosto e setembro, e com mais intensidade, acima de 2,5ºC. O El Niño é a resposta atmosférica ao aquecimento do Oceano Pacífico na Linha do Equador, que se sobrepõe às condições naturais de cada estação do ano, sendo um vetor que vai determinar a qualidade da chuva e a temperatura ao longo do ano.  


Sias explicou que o Rio Grande do Sul é um grande laboratório, onde começam os principais fenômenos meteorológicos, como ciclones, frentes frias, neve, geada, fenômenos atmosféricos, que nascem entre Argentina, Uruguai, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Também reafirmou que os meteorologistas têm observado na prática que o clima está mudando, assim como os trabalhos científicos apontam de forma irrefutável que os fenômenos climáticos têm se tornado mais potentes devido ao aquecimento global.


Ela refletiu, ainda, que mesmo durante os últimos três anos de La Niña (resfriamento do Oceano Pacífico), que resultou forte estiagem, ocorreram enchentes, temporais e episódios de vendaval, portanto, espera-se uma frequência ainda maior diante de condições que favorecem esse tipo de ocorrência. “Somos um estado agrícola, não tem que mudar nada, nós temos que nos adaptar, assim como as cidades precisam pensar de forma diferente na forma de administrar as suas vulnerabilidades diante dessa mudança”, orientou.


Comentou ainda que a preocupação está embasada não apenas em previsões futuras, mas nos registros históricos, que mostram que os efeitos são potencializados em anos de Super El Niño. A grande cheia de 1941 em Porto Alegre é um exemplo, o mesmo ocorreu nos anos 82, 83 e 97, 98. A especialista destaca ainda dados do Instituto Nacional de Meteorologia, que possui estações meteorológicas que medem há mais de 100 anos informações de diversos municípios gaúchos. Com base nessa série histórica, ao comparar as chuvas por ciclos de 30 anos, observa-se que está chovendo mais nas últimas décadas. Os dados também mostram a ocorrência de chuvas mais fortes e menos distribuídas. 


Segundo o presidente da Famurs e prefeito de Campo Bom, Luciano Orsi, a preocupação com o impacto do clima é um tema mundial, o que demonstra o ODS 11 da ONU, que busca tornar as cidades seguras, resilientes e sustentáveis. Pensando no RS, o cenário projetado exige ações dos gestores públicos de todas as esferas, incluindo investimento na infraestrutura e no planejamento do uso do solo. “As mudanças climáticas impactam todos os municípios, desde aqueles eminentemente agrícolas, no desenvolvimento das lavouras, mas também nos centros urbanos, que apresentam mais risco de alagamentos. Trabalhar com previsão e prevenção deve fazer parte da gestão municipal porque os problemas acontecem na cidade”, avaliou o presidente da Famurs, Luciano Orsi. 


Anúncio de recursos para cidades resilientes - Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) anunciou, em primeira mão, durante o 41° Congresso de Municípios, a oferta de recursos voltados a cidades resilientes, pelo seu diretor de Planejamento, Otomar Vivian. Os recursos foram disponibilizados após a assinatura de um contrato com Banco Mundial e são específicos para aplicação em políticas públicas de cidades seguras e resilientes. A linha de crédito de 90 milhões de dólares já está aberta para adesão dos municípios interessados, e conta com mais de 20 anos de prazo de pagamento e carência, taxa de juros 5,5% ao ano e contempla o financiamento de até 80% do projeto. 


“O BRDE é signatário do Pacto 2030 da ONU, tem responsabilidade com os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável. É um programa muito interessante para os municípios que sofrem os efeitos dos eventos climáticos, principalmente, alagamentos, enchentes, deslizamentos de encosta, entre outras intervenções estruturais para adaptar os municípios à questão climática”, explicou Vivian. 


O 41º Congresso de Municípios do Rio Grande do Sul tem o patrocínio do Banrisul, Aegea, Badesul, BRDE, Corsan, 1Doc, GOVBR, Aprende Brasil, Ford Superauto, Calçados Beira Rio, IPM Sistemas e Caixa, com apoio da Prefeitura de Restinga Sêca, Amcentro, CNM, Planalto, Sebrae, Cedem Associada à FDC.

Informações da notícia

Data de publicação: 07/06/2023

Créditos: Janis Morais

Créditos das Fotos: Guilherme Pedrotti e Igor Flamel