Leandro Karnal afirma que punir corruptos é a grande marca do Brasil na atualidade

A população quer mudanças. Deseja que os gestores públicos sejam éticos e apresentem resultados. Mas como fazer as coisas acontecerem em um país que teima em adiar tudo para o futuro? Na tarde dessa quinta-feira (16/02), o historiador Leandro Karnal teve a espinhosa missão de responder a essas perguntas. Ele, vale destacar, não se esquivou de nenhuma questão. A palestra “Que Brasil queremos?” marcou o encerramento do Seminário dos Novos Gestores, evento promovido pela Famurs.

No início da apresentação, Karnal exaltou a mudança vivida pelo país nos últimos anos, com a prisão de políticos e grandes empresários. “O que nós temos de inédito [no Brasil] é a capacidade de punir o roubo”, celebrou. Por outro lado, segundo o palestrante, o efeito colateral de tantas informações negativas sobre a classe política é a crescente falta de esperança da população. “Há um pessimismo dominante”, lamentou. Uma condição que vem acompanhada de desencanto. “[A população] não encontra modelos, não encontra heróis, não acredita em ninguém”, concluiu.

De acordo com o historiador, resta aos homens públicos atuarem para garantir que a percepção do povo mude. “Cabe à política não garantir o paraíso, mas evitar o inferno”, orientou. Leandro Karnal reconheceu a frustração popular diante dos inúmeros casos de corrupção. Ele sugere, porém, que as pessoas não deixem de acreditar nos valores do sistema democrático. “A democracia é, por essência, transparente. Não há denúncia em ditadura. Na democracia, há”, concluiu.

Gestão pública precisa ser honesta e eficaz

Leandro Karnal lembrou que os cidadãos reclamam muito dos políticos. A sociedade precisa, segundo o palestrante, fazer uma leitura crítica sobre as escolhas que faz. “O eleitor confia em quem diz o que ele quer ouvir e não o que ele deve ouvir”, alertou. Afirmou ainda que a desonestidade é um problema social. “Sempre que temos um governo corrupto, temos um povo que convive com sintomas de corrupção”, refletiu.

Ao analisar a realidade administrativa das cidades, o historiador alertou sobre a importância do novo Pacto Federativo, dizendo que as prefeituras nãos são ilhas de honestidade, mas possuem uma vantagem prática. “O município não é mais ético que o estado, mas é melhor para fiscalizar”, explicou. Aos gestores públicos, Karnal alertou que é preciso aplicar o dinheiro dos contribuintes com sabedoria. “O imposto é uma das chagas do estado que gasta mal. É preciso mais atendimento médico, mais educação. É preciso tornar o estado eficaz”, defendeu.

Karnal entende que ser íntegro não é o suficiente para fazer um bom governo. “Não basta honestidade. É preciso eficácia”, resumiu. O palestrante avalia que a mudança na forma de fazer gestão pública no país é um processo inevitável. “Está em curso no Brasil a criação de um espírito administrativo menos partidário e mais empresarial”, projetou. O problema, segundo o Karnal, é que parte da classe política ainda não está em sintonia com a nova realidade. “Aumento a demanda por eficácia ligada à ética. A elite política não entendeu isso”, criticou.

O palestrante observou que cabe aos homens públicos se equilibrar entre a busca do consenso e a coerção, dentro dos limites legais. Karnal encerrou a palestra com uma mensagem de otimismo: “Eu acredito muito neste país”!

Seminário dos Novos Gestores

Entre prefeitos, vices, secretários, gestores, técnicos e convidados, o Seminário dos Novos Gestores reuniu mais de 1500 participantes. O evento promovido pela Famurs no primeiro ano de mandato dos prefeitos tem como propósito orientar os responsáveis pela administração municipal sobre os desafios que serão enfrentados no próximo quadriênio. Neste ano, teve como tema “Reconstruindo o Brasil a partir dos municípios”. O encontro contou com os patrocínios do Banrisul, Corsan, Badesul, Caixa Econômica Federal, Sicredi e Bradesco. Teve ainda os apoios da Confederação Nacional de Municípios (CNM), Detran/RS e BRDE.

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